Riscos e cuidados no trabalho em ambientes frios

O trabalho em ambientes frios possui vários perigos intrínsecos às atividades realizadas e que devem ser tratados com atenção especial pela equipe de saúde e segurança do trabalho.

Muitas pessoas pensam que os riscos ocupacionais existem apenas em locais com potencial para acidentes, com quedas de objetos, choques, cortes e queimaduras. O que pouca gente se lembra é que ambientes frios também possuem vários perigos intrínsecos às atividades realizadas e que devem ser tratados com atenção especial pela equipe de saúde e segurança do trabalho.

O setor alimentício é o que mais necessita de cuidados, pois a conservação de alimentos perecíveis é feita em baixas temperaturas – como em frigoríficos, supermercados, açougues, laticínios, portos e até mesmo nos caminhões contêineres. Os trabalhadores são expostos a temperaturas que variam de 0 a 10 °C (câmaras de armazenagem) e pouco acima de 10 °C (armazenagem de verduras ou salas climatizadas para corte de carne), mas também enfrentam situações extremas, como os -20 °C de câmaras frias para produtos congelados e até mesmo -70 °C em túneis de congelamento.

Nessa situação, é preciso adotar práticas de prevenção para evitar que ocorram doenças e lesões ocupacionais ligadas às baixas temperaturas. É sobre isso que vamos falar neste post.

Como avaliar as condições de trabalho?

Para determinar se os trabalhadores estão ou não expostos a baixas temperaturas, a fiscalização avalia três pontos principais:

1. Temperatura ambiente: medida com um termômetro de bulbo seco comum, com gradação que segue até – 50 °C (graus Celsius).

2. Velocidade do vento: utiliza um anemômetro – aparelho para medir a velocidade de gases e líquidos – com escala de km/h (quilômetros por hora).

3. Atividade física: a partir de tabelas que determinam o gasto calórico em cada atividade, calcula o calor produzido pelo corpo do trabalhador, em kcal/h (quilocalorias por hora).

Esses três pontos são muito importantes porque, juntos, determinam o grau de exposição do empregado e as medidas de segurança a serem tomadas. Quanto menor for a temperatura no local de trabalho e maior a velocidade do vento, por exemplo, maior deve ser o isolamento térmico proporcionado pela roupa de proteção e menor o tempo de exposição ao frio.

Equipamentos de proteção contra o frio

Como em qualquer tarefa que envolva riscos ocupacionais, as atividades com exposição a baixas temperaturas exigem uma série de equipamentos de proteção individual (EPIs) para evitar a perda de calor do corpo. Veja quais são os principais:

• Uniforme completo (blusa e calça), capaz de proteger o tronco e membros. Deve ser feito com várias camadas, para criar uma proteção de ar isolante entre os tecidos. No caso de ventos muito fortes, esse uniforme deve ser de couro ou lã grossa. Em ambientes úmidos, o tecido precisa ser à prova de água. E quando a atividade for realizada em condições de frio extremo, essa vestimenta deve ser aquecida.

• Luvas de segurança. As mesmas regras do uniforme valem para as luvas, mas prestando atenção à mobilidade do trabalhador, que deve ser mantida para que ele possa executar suas tarefas manuais.

• Capuz de segurança. Responsável por proteger a cabeça e o pescoço, também deve respeitar as limitações do ambiente e possibilitar que o trabalhador não perca a amplitude de visão necessária para se manter em segurança.

• Botas térmicas. Garantem a proteção dos pés contra frio e umidade. Devem ser confortáveis para que o empregado possa executar bem suas tarefas e, ao mesmo tempo, protegê-lo contra os riscos presentes naquele ambiente.

Vale lembrar que se os EPIs não forem suficientes para proteção contra a hipotermia ou contra o congelamento, é dever do empregado suspender a atividade até que sejam providenciados os equipamentos adequados.

Também há uma série de medidas que podem ser tomadas coletivamente para garantir a segurança dos trabalhadores em ambientes frios. O local deve ser planejado para que ninguém fique muito tempo parado, com locais de repouso externos e espaço secagem e troca da roupa utilizada. As portas de câmaras frias precisam de sistemas de abertura internos e os túneis de congelamento só podem ser ligados se não houver ninguém no ambiente.

Principais doenças/lesões causadas pelo frio

Devido à perda de calor e diminuição da circulação sanguínea do corpo, uma série de problemas podem surgir quando os trabalhadores não estão preparados para atividades em temperaturas extremas. As principais áreas afetadas são as extremidades, como pés e mãos, mas também pode afetar o sistema respiratório e a pele. Confira quais são as principais doenças e lesões geradas pelas baixas temperaturas:

1. Urticária: reação alérgica de uma parte específica do corpo contra o frio. Seus principais sintomas são a vermelhidão na pele e coceira.

2. Ulceração: pequenas lesões provocadas na pele, que podem gerar alteração na cor (palidez), dores e até mesmo a formação de bolhas.

3. Pé de imersão: quando trabalhadores que realizam atividades com os pés expostos à água fria não utilizam os EPIs corretos, a circulação sanguínea diminui e os membros inferiores ficam pálidos, úmidos e frios. Se isso não for tratado de forma adequada, pode evoluir para uma infecção.

4. Fenômeno de Raynaud: provoca a diminuição sanguínea nos dedos, podendo deixá-los pálidos ou azulados, seguido por uma vermelhidão do local, perda de sensibilidade, latejamento e ardência. Pode estar associado a outras doenças, como artrite reumatoide.

5. Congelamento: ocorre quando a temperatura da área afetada cai abaixo de 0 °C, causada por exposição a ambientes muito frios ou pelo contato com objetos extremamente frios. Devido à diminuição da circulação sanguínea, causa vermelhidão e inchaço na pele, podendo evoluir para uma dor intensa, infecções, gangrena e a perda do membro ou região afetada. Ocorre, principalmente, nas extremidades do corpo – mãos, pés e face.

6. Frosbite: quando a exposição ocorre em temperatura abaixo de 2 °C, também há o perigo de pequenos cristais de gelo se formarem na epiderme e na derme.

7. Perniose (frieiras): após o congelamento, algumas partes do corpo ainda podem experimentar sensações dolorosas e queimaduras. Exige um tratamento complicado, que pode durar anos.

8. Hipotermia: esse é o caso mais grave dentre os descritos. Após uma longa exposição a ambientes frios, sem a correta proteção, o corpo começa a perder a sensibilidade. Isso faz com que a pessoa pare de sentir frio e dor, o que é seguido por fraqueza muscular e adormecimento. Também pode diminuir a capacidade de percepção, dilatação das pupilas e alucinações. Em casos mais sérios, pode gerar um coma e até mesmo a morte. O tratamento deve ser feito de forma imediata, transferindo a vítima para ambientes quentes, com cobertores, aquecedores e bebidas quentes. Assim que possível, é necessário transferir o trabalhador para um hospital.

Compartihe

Mais posts

This will close in 0 seconds

Quer falar com o Grupo Ocupacional?

Estamos aqui!

Clique abaixo no setor desejado: